Publicado: 2018-10-10 por Psicóloga Juliana Gonçalves Oliveira Guedes
Todos nós conhecemos alguém que está convencido de que a opinião deles é melhor do que a de todos os outros sobre um tópico, talvez até mesmo, que essa seja a única opinião correta a ter.
Talvez, em alguns tópicos, você seja essa pessoa. Nenhum psicólogo ficaria surpreso se as pessoas que estão convencidas de que suas opiniões são superiores acham que estão mais bem informadas do que outras, mas esse fato leva a uma pergunta: as pessoas estão realmente mais bem informadas sobre os temas pelos quais estão convencidas de que sua opinião é superior? Isso é o que Michael Hall e Kaitlin Raimi propuseram para verificar uma série de experimentos no Journal of Experimental Social Psychology.
Os pesquisadores distinguem "superioridade de opinão" de "confiança na opinião" (pensando que sua opinião está correta). A superioridade de opinão é relativa, é quando você pensa que sua opinião é mais correta do que a de outras pessoas. A extremidade superior da sua escala de superioridade de opinão é indicar que sua opinião é "Totalmente correta (a minha é a única visão correta)".
A dupla partiu para encontrar pessoas que sentissem suas opiniões em uma variedade de questões políticas controversas (coisas como terrorismo e liberdades civis ou redistribuição de renda) e que fossem verificadas usando questionários de múltipla escolha quão bem elas são informadas sobre os tópicos sobre o qual eles mantinham essas opiniões de superioridade.
Em cinco estudos, Hall e Raimi descobriram que aquelas pessoas com a mais alta superioridade de opinão também tendiam a ter a maior lacuna entre seu conhecimento percebido e real, a opinião superior consistentemente sofria da ilusão de que eles estavam mais bem informados do que eram. Como era de se esperar, aqueles com menor superioridade de opinão tendiam a subestimar o quanto sabiam.
Além do conhecimento básico simples, os pesquisadores também estavam interessados em como as pessoas com superioridade de opinão procuravam novas informações relevantes para essa opinião. Eles deram aos participantes uma seleção de notícias e pediram que selecionassem quais artigos gostariam de ler na íntegra no final do experimento. Categorizando manchetes como congruente de opinião ou opinião incongruente, os pesquisadores observaram que os participantes com maior superioridade de opinão eram mais propensos a selecionar manchetes congruentes de opinião. Em outras palavras, apesar de estarem mal informados em relação á sua autopercepção, esses participantes optaram por negligenciar fontes de informação que aumentariam seu conhecimento.
Finalmente, e de forma mais promissora, os pesquisadores encontraram algumas evidências de que a superioridade de opinão pode ser prejudicada pelo feedback. Se os participantes soubessem que pessoas com opiniões como as deles tendiam a pontuar mal no conhecimento de tópicos, ou se eles foram diretamente informados de que sua pontuação no quesito de conhecimento era baixa, isso não apenas reduzia sua superioridade de opinão, também os fazia buscar o tipo de informação desafiadora que eles tinham anteriormente negligenciado na tarefa de manchetes (embora a evidência para este efeito comportamental fosse mista).
Os estudos envolveram todos os participantes acessados via Turco Mecânico da Amazon, permitindo que os pesquisadores trabalhassem com grandes amostras de americanos para cada experimento. Suas descobertas espelham o conhecido efeito Dunning-Kruger que mostraram, para domínios como julgamentos de gramática, humor ou lógica, os mais habilidosos tendem a subestimar sua capacidade, enquanto os menos habilidosos a superestimam. A pesquisa de Hall e Raimi estende isso para o campo das opiniões políticas (onde a avaliação objetiva da correção não está disponível), mostrando que a opinião de que sua opinião é melhor do que a de outras pessoas está associada á superestimação de seu conhecimento relevante.
No geral, a pesquisa apresenta um quadro misto. Ele mostra, como outros, que nossas opiniões muitas vezes não são tão justificadas quanto acreditamos, mesmo que as opiniões mais confiantes sejam melhores do que as de outras pessoas. Por outro lado, mostra que as pessoas respondem aos comentários e não são motivadas apenas por preconceitos de confirmação quando procuram novas informações. O quadro final é de racionalidade humana que é falha, mas corrigível, não condenada.